

Este artigo é um trecho do guia de livrosShortform para "Mythologies", de Roland Barthes. Shortform tem os melhores resumos e análises do mundo sobre livros que você deveria estar lendo.
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Há uma mensagem oculta no meme que você acabou de curtir na mídia social? O mito é essencialmente propaganda?
De acordo com Roland Barthes, os mitos ocorrem quando as instituições dominantes da sociedade dão significado a uma imagem, objeto ou frase. Ao formar essas associações, as instituições sociais dominantes criam e reforçam crenças e valores culturais que são adotados inconscientemente pelas massas.
Em Mythologies, Barthes pretende abrir nossos olhos para essas manipulações e nos ensinar como evitá-las. Aqui está uma visão geral do livro.
Visão geral de Mythologies de Barthes
Em Mythologies, Barthes chama a atenção para os mitos que estão constantemente ao nosso redor. Pense em todas as imagens, mensagens e histórias com as quais você se depara ao longo do dia. Abra o jornal pela manhã e você verá fotos de guerras, perfis de candidatos políticos e empresários e relatórios sobre os últimos preços das ações. Percorra as mídias sociais e verá uma enxurrada de fotos, vídeos, anúncios e memes, todos transmitindo alguma mensagem. Vá à loja e os produtos chamarão sua atenção - consciente e inconscientemente - com designs e slogans.
De acordo com Roland Barthes, um influente filósofo e crítico literário francês do século XX, esses objetos e imagens que consumimos durante o dia estão repletos de mitos. Ele diz que, em um nível amplo, o mito é um modo de comunicação - um mito transmite uma mensagem. Os mitos ocorrem quando as instituições dominantes da sociedade (por exemplo, o governo, o setor de publicidade ou Hollywood) impregnam de significado uma imagem, um objeto ou uma frase. Esses significados servem para moldar a maneira como as pessoas na sociedade veem o mundo. Ao criar essas associações, essas instituições sociais dominantes essencialmente criam e reforçam crenças e valores culturais que são adotados inconscientemente pelas massas.
Em Mitologias (publicado originalmente em 1957), Barthes analisa vários desses mitos da França na década de 1950. A Parte 1 do livro é uma série de ensaios de uma coluna mensal que ele escreveu para a revista literária Lettres Nouvelles entre 1954 e 1956. Cada ensaio discute um mito da sociedade francesa, explorando as nuances por trás dele e explicando como ele transmite determinados valores. Na Parte 2, Barthes apresenta uma discussão mais teórica sobre o mito.
Discutiremos a estrutura teórica de Barthes por trás do mito e examinaremos alguns dos exemplos que ele dá da cultura francesa dos anos 1950.
Shortform NotaShortform : O conteúdo deste livro se baseia fortemente no contexto social e político da época e do local em que foi escrito, além de ser um produto das tendências políticas de Barthes. Na década de 1950, a França havia saído recentemente da Segunda Guerra Mundial e estava em uma época de rápidas mudanças sociais. A classe média estava crescendo, e as forças políticas conservadoras estavam promovendo uma agenda anti-intelectual, populista e anti-imigrante para manter o que eles promoviam como valores "tradicionais". Barthes era um progressista e marxista e estava empenhado em denunciar a propaganda que via ao seu redor e aumentar a conscientização).
Parte 1: Entendendo o mito
Antes de discutir onde o mito aparece na sociedade, vamos primeiro definir o mito como Barthes o apresenta. Barthes explica que um mito é uma mensagem transmitida quando um objeto, imagem ou frase é associado a um conceito ou valor e, portanto, assume um significado simbólico. Os mitos moldam a maneira como vemos o mundo e têm poder sobre nós quando as instituições dominantes da sociedade elaboram essas mensagens para nós.
Os componentes do mito: forma e conceito
Barthes argumenta que os mitos têm dois componentes básicos e inter-relacionados: uma forma e um conceito. A forma de um mito é concreta: é o objeto, a imagem ou a frase real que percebemos com nossos sentidos. Barthes explica que, por si só, esses materiais têm um significado literal. No entanto, o poder do mito está no fato de que ele impregna essas coisas com um significado adicional. O mito ocorre quando a sociedade conecta a matéria-prima da forma a um conceito abstrato.
Barthes sugere também que o mito não apenas acrescenta um novo significado à matéria-prima, mas também distorce o significado original. Embora os significados originais não desapareçam completamente, eles recuam para o papel secundário de apoio ao mito. De acordo com Barthes, esse recuo do significado da forma é importante porque permite que o mito pareça perfeitamente natural. Em outras palavras, ele esconde o fato de que a relação entre a forma e o conceito é uma construção.
A criação e a função do mito
Agora que entendemos o que Barthes quer dizer com mito, passaremos a uma discussão sobre como os mitos são criados e utilizados na sociedade. De acordo com Barthes, o mito é essencialmente um meio de criação de cultura. Mas, mais especificamente, ele argumenta que é a criação de uma "cultura ideal" que obscurece a realidade e a diversidade. Embora Barthes não use a palavra, ele está basicamente argumentando que o mito é propaganda.
Ele sugere que as instituições da sociedade criam associações entre determinados sinais e conceitos, e a população em geral internaliza essas associações e passa a vê-las como naturais.
Barthes tem como objetivo específico criticar as construções de classe que sustentam o mito em sua própria cultura (França dos anos 1950). Ele diz que o mito é como uma máscara que apresenta uma falsidade e protege as pessoas das duras realidades, o que serve para sustentar a ordem social e reforçar as distinções de classe.
Os perigos do mito
Barthes sugere que uma característica definidora do mito é sua capacidade de parecer "natural", embora seja construído. Isso significa que as pessoas não questionam o mito e, em vez disso, o aceitam como fato.
Barthes argumenta que o mito é ao mesmo tempo necessário e problemático. É necessário até certo ponto, diz ele, porque cria um mundo simplificado e confortável para as pessoas diante de realidades difíceis.
Barthes ressalta que, quando o mito disfarça a "sujeira" de questões mais sérias, como racismo, sexismo ou fascismo, entramos em um território perigoso, no qual as pessoas podem vir a aceitá-las como naturais e normais e deixar de desafiá-las.
Barthes diz que o mito é o veículo perfeito para promover agendas políticas. Isso tem a perigosa implicação de que as pessoas podem ser manipuladas para apoiar agendas sociais e políticas que vão contra seus próprios interesses ou valores e defendem estruturas sociais opressivas.
Parte 2: Os mitos que criam a realidade social
Agora que entendemos o que são mitos e como eles são criados, veremos exemplos concretos de como os mitos são usados para reforçar normas e valores culturais. Como Mythologies inclui 53 ensaios que descrevem exemplos de mitos que Barthes coletou de revistas francesas, identificamos os temas mais comuns entre eles - a saber, classe, raça, gênero e construções de beleza - e escolhemos um dos exemplos de Barthes para ilustrar cada tema. Em seguida, ilustraremos os mesmos conceitos com exemplos contemporâneos.
Construções de classe: "O cruzeiro de sangue azul"
Barthes descreve um segmento de notícias sobre membros da realeza europeia fazendo um cruzeiro de iate pelas ilhas gregas em 1954. Ele discorda da cobertura da mídia sobre esse evento, que incluía minúcias sobre o que eles vestiam e quando acordavam.
Barthes diz que o mito aqui está na apresentação da realeza fingindo ser pessoas comuns. Mas a mensagem mais profunda transmitida por esse espetáculo é que eles não são, por definição, pessoas comuns. Caso contrário, por que os detalhes relatados seriam dignos de notícia?
Portanto, diz Barthes, esse tipo de mito cria e reforça as noções de distinção de classe e, de fato, endeusa a nobreza, apresentando-a como algo mais do que humano.
Construções de gênero: "Romances e Crianças"
Em seu ensaio "Novels and Children" (Romances e Crianças), Barthes explora os mitos da desigualdade de gênero ao descrever um segmento da revista Elle sobre mulheres escritoras. No artigo, várias escritoras são apresentadas. Ele ressalta que o artigo passa tanto tempo discutindo os papéis das mulheres como esposas e mães quanto suas carreiras.
Barthes diz que esse artigo transmite a mensagem de que as mulheres só podem se dedicar à carreira se também tiverem cumprido seu dever principal e tido filhos. Barthes também aponta aqui que o público-alvo desse mito não são apenas as mulheres, mas também os homens. Ele argumenta que esse mito serve para reforçar e manter uma estrutura patriarcal na sociedade, o que é feito de forma mais eficaz quando homens e mulheres o aceitam.
Construções raciais: "Bichon entre os negros"
Em seu ensaio "Bichon Among the Blacks", Barthes descreve uma história de uma revista francesa chamada Match sobre um casal branco que visitou a África com seu filho pequeno, Bichon. O artigo, segundo ele, enfatiza muito a "coragem" da família. O mito apresentado aqui é uma narrativa sobre raça, com o casal branco sendo apresentado como heroico em sua disposição de estar entre os africanos "selvagens".
Barthes afirma que o leitor sem instrução de um artigo como "Bichon Among the Blacks" (Bichon entre os negros) não teria a capacidade de detectar conscientemente o significado - uma mensagem sutil de supremacia branca - mas que, mesmo assim, isso influenciaria sua percepção do mundo.
Construtos de beleza: "O rosto de Garbo"
Aqui Barthes analisa a representação do rosto da atriz Greta Garbo em filmes e fotos. Ele aponta para técnicas de iluminação, maquiagem e edição destinadas a fazer com que o rosto dela pareça perfeito, sem nunca revelar uma mancha ou ruga. Ele diz que seu rosto representa um ideal cultural de beleza, pureza e juventude que é inatingível e inesquecível.
Barthes chama o rosto de Garbo de "uma ideia", pois transmite uma mensagem sobre o que ele chama de "amour courtois" - o conceito de um tipo de amor nobre e cavalheiresco. A população deve percebê-la como uma espécie de ser divino, com um tipo de beleza que eles deveriam aspirar, mas que nunca poderão alcançar.
Mais uma vez, podemos ver aqui a noção de que o mito é ao mesmo tempo atraente e perigoso na forma como oculta a feia verdade da realidade. Além disso, as construções de beleza ideal são a base do setor de beleza e cosméticos. A promoção de um ideal inatingível é a configuração perfeita para atrair as pessoas a comprarem produtos e procedimentos cosméticos.
Construções políticas: "Billy Graham no Vel d'Hiv"
Barthes descreve um evento televisionado em que o evangelista americano Billy Graham fez sermões no estádio Vel d'Hiv, em Paris, em 1955. Barthes vê Graham como outra versão de um hipnotizador ou artista de sessões espíritas. Barthes chega ao ponto de argumentar que, "se Deus está realmente falando pela boca do Dr. Graham, é preciso reconhecer que Deus é bastante estúpido". De acordo com Barthes, é o desempenho, e não a mensagem de Graham, que influencia as pessoas. Mas a mensagem sutil está lá, e Barthes diz que a mensagem é propaganda anticomunista.
Barthes afirma que a visita de Graham à França foi claramente motivada pelo medo americano do ateísmo e pela associação simplista do ateísmo com o comunismo. Barthes diz que esse tipo de mito pode fazer com que massas de pessoas pensem de forma ilógica e sejam vítimas de sugestões perigosas, e isso pode ter consequências sociopolíticas potencialmente desastrosas. É claro que essas consequências que Barthes consideraria desastrosas são exatamente o que os criadores do mito pretendem - a poderosa elite política -, já que esse tipo de mito, mais uma vez, é projetado para manter intactas as estruturas de poder.

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Veja o que você encontrará em nosso resumo completo de Mitologias:
- As mensagens sutis que inconscientemente moldam a maneira como vemos o mundo
- Como os mitos são usados para reforçar normas e valores culturais
- Por que os mitos podem representar um perigo para a sociedade